ATA DA SEPTUAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 29.11.1988.

 


Aos vinte e nove dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Septuagésima Terceira Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a proceder, a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Professor Joaquim José Barcellos Felizardo, concedido através do Projeto de Resolução n° 37/88 (proc. nº 1586/88). Às dezenove horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Artur Zanella, 1° Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência, neste ato; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Matheus Schimidt, Presidente Regional do PDT, representando, neste ato, o Sr. Leonel Brizola, Presidente Nacional do PDT; Dr. Raul Cauduro, Ministro do Tribunal de Contas do Estado; Prof. Dante de Laytano, Presidente da Academia Sul-Riograndense de Letras; Jorn. Firmino Cardoso, representando, neste ato, o Jorn. Alberto André, Presidente da ARI; Major Juarez Temes, da Escola de II Grau de Cadetes; Prof. Joaquim José Barcellos Felizardo, Homenageado; Sra. Maria Francisca Allgayer Mendonça, Esposa do Homenageado; Ver. Adão Eliseu, autor da proposição e Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Ver. Adão Eliseu, que em nome do PDT, PDS, PFL e PL, discorreu acerca da vida e do trabalho profissional realizado pelo Homenageado, destacando a presença constante de S. Sa. nas lutas políticas progressistas que envolvem a Nação. A Ver. Jussara Cony, em nome do PC do B, falou sobre a sua satisfação por participar da presente homenagem, analisando a importância do Prof. Joaquim José Barcellos Felizardo para a divulgação, compreensão e desenvolvimento da história e da cultura da nossa Comunidade. O Ver. Lauro Hagemann, em nome do PCB, relembrando a forma como conheceu pessoalmente o Homenageado, em lutas estudantis da época em que S. Sa. freqüentava o Colégio Júlio de Castilhos, ressaltou a fidelidade sempre mostrada pelo Prof. Joaquim José Barcellos Felizardo aos princípios socialistas que abraçou em sua juventude. O Ver. Flávio Coulon, em nome do PMDB, congratulou-se com o Ver. Adão Eliseu pela proposta da presente solenidade, salientando os reflexos da atuação profissional e política do Homenageado no desenvolvimento conjunto da Cidade. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Ver. Adão Eliseu, do Titulo Honorífico de Cidadão Emérito ao Prof. Joaquim  José Barcellos Felizardo, e concedeu a palavra ao Pref. Alceu Collares, que saudou o Homenageado. Após, o Sr. Presidente convidou a Verª. Gladis Mantelli a proceder à entrega do Troféu  Frade de Pedra ao Homenageado, e concedeu a palavra à atriz  Maria Dinorah, que recitou poesias de Bertold Brecht e Cecília Meireles. Em prosseguimento, foi concedida a palavra ao Homeangeado, que agradeceu o Título recebido. Ao finalizar, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte e uma horas e quinze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur Zanella e secretariados pelo Ver. Adão Eliseu, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Adão Eliseu, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene para conceder o título honorífico de Cidadão Emérito ao Prof. Joaquim José Barcellos Felizardo.

A Mesa informa que falarão em nome da Casa os Vereadores: Adão Eliseu, autor da proposição, Jussara Cony, Lauro Hagemann e Flávio Coulon.

É concedida a palavra ao Ver. Adão Eliseu, autor da proposição, que falará em nome das Bancadas do PDT, PDS, PFL e PL.

 

O SR. ADÃO ELISEU: (Menciona os componentes da Mesa.) Secretário do Governo Municipal, Geraldo Gama; Secretário Municipal dos Transportes, Nelson Fernandes; Secretário Municipal do Meio Ambiente, Carlos Augusto de Souza; Secretário Municipal da Administração, Luiz Alberto da Costa Chaves; Secretário Municipal de Obras e Viação, Luiz Alberto Schann; demais autoridades, ilustres professores, minhas senhoras e meus senhores, jornalistas e demais convidados.

Poucas vezes reunimo-nos, neste Plenário, palco de grandes acontecimentos históricos, tanta gente com tanta representatividade nos mais variados campos de atividade cultural. Isto só acontece nos grandes momentos da história deste legislativo municipal. Pois este é um grande momento para todos nós já que esta Casa, por unanimidade, dos Vereadores presentes, aprovou proposta de tornar o Professor J. Felizardo Cidadão Emérito de Porto Alegre.

O amigo Felizardo recebe esse galardão do povo desta cidade, através de seus representantes, que é um sinal de reconhecimento pelo muito que a Cidade lhe deve. Todo o seu trabalho sempre esteve ligado aos acontecimentos e inquietações que marcaram os destinos da humanidade. Sua mensagem transmitida na sala de aula, em suas palestras, bem como em seus livros sempre evidenciou um estado de alma que o comprometia com os acontecimentos, de tal sorte que o seu engajamento nos assuntos relacionados ao dia a dia da política de nosso País tem sido uma constante em trabalho. O Felizardo, pode-se dizer, ele vem seguindo o modelo de Sartre entre os escritores modernos cujo escopo é o de procurar simplesmente mostrar o mundo mas de tentar muda-lo. Um mundo frio, envernizado, próprio para vilegiaturas, burguês. O Professor Felizardo não teve jamais uma presença assistencialista e paternalista em sala de aula. Seu sistema vai diretamente ao aluno de forma a envolvê-lo no processo histórico, aproveitando suas inquietações para melhor compreensão da mensagem. Assim é nosso Secretário da Cultura, envolvido na efervescência dos acontecimentos.

Político progressista rompedor de barreiras retrógradas. Administrador eficiente, renovador e impulsionador. Escritor emérito, analista da alma humana no indivíduo e na sociedade tendo em vista sua evolução histórica. É um jovem de 56 anos que não pode parar e com isso incentiva a todos a vibrar com ele, em tudo o que ele faz e no que pretende fazer.

Iniciou seus estudos no seu bairro natal – Partenon e como todo porto-alegrense de ideais avançados foi para o “Julinho” onde foi, ao natural, guindado à Presidência do Grêmio Estudantil, liderando em diversos congressos estaduais e nacionais da classe estudantil.

Ainda estudante secundarista, ocupou cadeira na Câmara Municipal de Porto Alegre e na Assembléia Legislativa do Estado, como suplente de Deputado.

Militante do jornalismo na capital, ingressou na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, época em que por quatro mandatos consecutivos, a direção do Departamento do Colégio Universitário do Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt, onde paralelamente, acumulou as funções de professor de História.

Com o curso superior, em estágio de conclusão, integrou o quadro de professores do colégio Ruy Barbosa e Rio Branco, datando da época a publicação de sua primeira obra na área de História Universal, sob o título “Causas da Evolução Geográfica e Econômica nos Primórdios da Idade Moderna”.

Bacharel e licenciado em História pela UFRGS, fundou e dirigiu por nove anos o IPV, Instituto Pré-Vestibular de Porto Alegre, tendo realizado estágio na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Ao exercício permanente de magistério, somaram-se outras obras, numa série de estudos históricos, integrando “Idade Média Ocidental”, “Navegações e Desenvolvimentos”, “O Renascimento e a Reforma”, “Ideólogos Pré-Revolucionários Franceses”, “A Revolução Francesa”, “Estudos da Idade Moderna”, “Inconfidência Mineira” e “História da República Brasileira”.

Exerceu o magistério nos Colégios Santo Antônio, onde fundou e presidiu o centro de Professores, Anchieta, Comercial Cruzeiro do Sul e ocupou cátedra de História na Faculdade de filosofia do Seminário Maior de Viamão.

Como professor-conferencista, ministrou aulas no CELAR, pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica. Em Caxias do Sul, dirigiu o Instituto Educacional Santo Agostinho e ministrou aulas na Universidade de Caxias do Sul.

Foi colaborador do “Caderno de Sábado” do jornal “Correio do Povo”, do “Jornal de Caxias” e “Jornal das Artes” em Paraíba, emitiu pareceres críticos para o Instituto Estadual do Livro, acrescentando às obras já publicadas o livro “De Souza Júnior, Apontamentos para a Biografia de um Homem Sincero”, “As Duas Grandes Revoluções” e colaboração em Edição da Globo, cinco volumes, na série “Vidas Notáveis”.

Integrou o corpo docente do Curso CPS em Porto Alegre ministrou aulas na Universidade de Ijuí (Fidene, RS).

Na Universidade do vale do Rio dos Sinos, foi professor do Centro de Educação e Humanismo do Departamento de Sociologia, onde lecionou as Cadeiras de Sociologia e Política e Estudos de Problemas Brasileiros.

Punido pelo Ato Institucional nº 1 (1964) e pelo Ato Institucional nº 5 (1969), foi anistiado, sendo fundador e um dos vice-presidentes da Associação de Debates e Estudos do Partido Trabalhista Brasileiro e membro integrante do Conselho Editorial dos Cadernos Trabalhistas.

Em Brasília, foi assessor técnico da liderança do PDT na Câmara dos Deputados e, em Porto Alegre, assessorou a bancada do PDT junto ao Vereador Adão Eliseu de Carvalho.

Participou do elenco de autores que organizou a obra “Legalidade, 25 anos”, concluiu o assunto, em estudo pessoal, um próximo livro, preste a ser lançado.

Esportista, foi presidente do Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre, sendo representante no Rio Grande do Sul do Maese Futebol Clube, de Montevidéu.

Presidente do Movimento de Professores Socialistas, não concluiu sua gestão, escolhido que foi, pelo Prefeito Alceu Collares, a dirigir a então Divisão de Cultura da Secretária Municipal de Educação e Cultura.

À testa da Divisão de Cultura, Felizardo sonhou um salto qualitativo que a transformaria na primeira Secretaria de Cultura do Município. Cumprindo promessa feita ao povo de Porto Alegre e à Classe cultural e artística, o Prefeito Alceu Collares sancionou a lei que criava a Secretaria Municipal da Cultura, escolhendo para seu titular aquele que fora um dos seus mais fervorosos defensores, o Professor Joaquim José Felizardo, que, por justo mérito e reconhecido valor, ocupa o cargo, desde fevereiro do ano em curso.

Percorre todo o seu trabalho um certo jeito particular de dizer as coisas; um tom irônico que o caracteriza, que transforma a frase num todo de beleza e originalidade, com idéias profundas e claras de forma muito expressiva.

Este é o nosso homenageado, uma pálida idéia do homem e sua obra.

Pelo seu passado de luta e posição ideológicas, pelos seus princípios incorruptíveis como mestre e político, pelo intenso amor que sempre dedicou à sua cidade natal, a quem honra como servidor incansável, Felizardo conquistou o reconhecimento de Porto Alegre.

Por todo este trabalho realizado, pela sua honestidade de propósitos, pela sua criatividade e pelo sucesso dos métodos empregados, acreditamos ser justa a homenagem que ora recebe.

Queremos, nestes derradeiros momentos, lembrar ao Prof. Felizardo e aos presentes que a idéia de homenageá-lo como Cidadão Emérito de Porto Alegre nasceu no nosso gabinete por pessoas que nos assessoram como o Dr. Sólon, o Jorn. Vasconcellos, que está presente, seu assessor para assuntos jornalísticos, a Adréa, sua filha, o Horacy, a Maria e todos nós.

Achamos que seria uma forma carinhosa de agradecer por tudo aquilo que o Prof. Felizardo nos fez no início do nosso mandato. Nos ensinou muitas coisas. Nos ensinou a sermos representantes do povo, de uma forma muito digna, de uma forma muito didática, sem ferir suscetibilidade de quem quer que seja. Nos encaminhou para os caminhos certos, para os caminhos adequados da nossa Legislatura, apesar de sermos militantes políticos de um partido desde 1962, apesar de termos uma convivência com a vida política, convivência com pessoas como o nosso Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares e outros companheiros que nos honraram com seus exemplos, apesar de tudo isto, a vida parlamentar exige muito no caso do Vereador. Exige muito do Deputado, do Senador, enfim de todos aqueles que tem representação popular. Nós realmente tremíamos ao assomar à tribuna, mas nos confortávamos, também, porque tínhamos atrás de nós o Prof. Felizardo com seus ensinamentos, com sua experiência, com seu saber e a sua cultura.

Essa foi, Prof. Felizardo, a forma que encontramos de demonstrar a nossa amizade, o nosso reconhecimento por tudo àquilo que nos ensinaste. Que o grande Arquiteto do Universo te conserve com 100 anos de vida para percorreres as salas de aula de nossa Porto Alegre, de nosso Estado e de nosso País, levando a tua mensagem engajada, por assim dizer, porque nunca ensinaste por ensinar, a tua cátedra de professor sempre foi uma tribuna, dali tu expedias, através do teu verbo inflamado, a mensagem de uma forma, às vezes, sub-reptícia, às vezes clara, cristalina, juntamente com a tua aula, com a matéria e a disciplina de tua aula tu transmitias a mensagem ideológica, no seu sentido verdadeiro para os teus alunos, fazendo com que eles crescem contigo, crescem juntamente com o Professor, de forma tal, que criaste uma escola, criaste discípulos, os teus amigos são teus seguidores.

Agradecemos a presença de todos, do Prefeito, a presença dos amigos do Felizardo, dos nossos amigos, pela gentileza de aqui comparecerem, agradecemos, também, as idéias dos assessores de gabinete que nos fizeram pensar. Viu, Vasconcellos, as tuas idéias eram boas. No sentido de doarmos esse galardão que a Cidade de Porto Alegre entrega nas mãos desse mestre da cultura rio-grandense. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a Ver.ª Jussara Cony, pela Bancada do PC do B.

 

A SRA. JUSSARA CONY: (Menciona os componentes da Mesa.) Secretários do Município de Porto Alegre; funcionários municipais da Secretaria de Cultura e demais unidades do Município de Porto Alegre; amigos e companheiros da área de arte e cultura, história; senhoras e senhores. Para nós e para o nosso Partido, o Partido Comunista do Brasil é uma honra participar de um momento como este, em que a Câmara Municipal de Porto Alegre, através da bela iniciativa do Ver. Adão Eliseu, homenageia a Joaquim José Felizardo a quem consideramos um amigo e companheiro da luta. E nos permitam ser desta forma, amiga e companheira, que destacaremos alguns outros momentos que para nós dão a dimensão da justeza e da oportunidade desta homenagem, Ver. Adão Eliseu.

Falar na vida do homenageado da Cidade de Porto Alegre é dizer da sua inserção na cultura, e na história desta Cidade, do Estado do Rio Grande do Sul e do nosso País. É entender a postura política como historiador, resgatar a história das lutas de seu povo e ser um agente de transformação da sociedade. É destacar sim o desafio aceito e que merece o aplauso do povo de Porto Alegre, de uma Secretaria a serviço da Arte, da Cultura e da História da nossa cidade e de seu povo. É lembrar que, como tantos outros democratas e patriotas de nosso País, sofreu a cassação dos seus direitos da cidadania pelos Atos Institucionais do regime militar. Exatamente porque exercia não apenas o direito, mas o dever de todo cidadão de lutar por democracia, por liberdade e soberania de seu País.

Homenagear ao professor de quem temos as primeiras lembranças no Colégio Rui Barbosa é dizer que a Revolução Francesa e a Inconfidência Mineira, páginas importantes da luta dos povos por direito e liberdade, historiadas por Joaquim  José felizardo, nos dão a dimensão exata neste momento histórico do nosso País e da luta de todos os povos, de quantas lutas ainda teremos pela frente para alcançar a justiça e a liberdade para todos os povos do mundo.

Nós dizíamos no início que desejávamos neste momento falar de forma amiga e companheira e destacar alguns outros momentos.

Queremos, senhores e senhoras, nesta tribuna, quase ao final desta legislatura de tantas lutas e de um mandato do Partido Comunista nesta Casa relembrar o início desta etapa em que aqui estivemos cumprindo a honrosa tarefa de representar o povo de Porto Alegre, o nosso Partido. Porque neste início, difícil para todos, encontramos naquele a quem chamávamos Prof. Felizardo, um amigo e um conselheiro, mas, acima de tudo, um companheiro de primeira hora para todos os embates, para as lutas comuns por democracia e por liberdade. No convívio, mais tarde, com o Diretor da Divisão de Cultura, e com o primeiro Secretário de Cultura deste Município, convívio estes baseados em princípios, a certeza de que acima de tudo se encontravam os interesses da arte, da cultura e da história do nosso povo. Esta Casa, hoje com tantos companheiros, com tantos amigos é a certeza desta afirmação. No dia 8 de março deste ano, dia dedicado à luta da mulher, em nível internacional, quando o coletivo de mulheres de Porto Alegre fez a entrega à Presidência desta Casa na pessoa do Sr. Presidente, Ver. Brochado da Rocha, do Projeto que levava a nossa assinatura pela criação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, aprovado por unanimidade desta casa e que queremos, sim ver implantada na administração do Prefeito Alceu Collares, pelo seu compromisso com a luta das mulheres. Contamos com a presença, honrosa para nós, e, de pronto, com o apoio incentivo do Secretário da Cultura, mas mais ainda, com o apoio e incentivo do companheiro de lutas Joaquim José Felizardo que, ao se pronunciar, deu a dimensão exata da sua compreensão de que a luta por nossa emancipação, pela emancipação das mulheres e uma luta de homens e mulheres porque a própria luta pela libertação de um povo através da transformação de uma sociedade que gera a repressão e a exploração para homens e mulheres. Companheiros, Prof. Felizardo, não vou conseguir dizer aquilo que costuma-se sempre ao finalizar um pronunciamento porque é impossível colocar qualquer fim quando incurso está a luta pelas reais transformações que este País precisa e que nosso povo, com certeza, fará quando no curso desta luta se encontra o historiador que assumiu a tarefa de ser agente destas transformações, quando no curso desta luta se encontra quem busca dar a verdadeira dimensão e dignidade à História, à Arte e à Cultura do seu povo, com a exata compreensão de que este povo, com organização, unidade e luta, alcançará o que tantas vezes conversamos, amigo e companheiro Joaquim José Felizardo e que faz parte do sonho e da luta de tantos, a conquista da sociedade socialista. A homenagem e o carinho, nesta etapa, do Partido Comunista do Brasil a um amigo e companheiro nesta histórica caminhada. Obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, em nome do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Menciona os componentes da Mesa.) Em nome do Partido Comunista Brasileiro, eu não poderia deixar de vir a esta Sessão prestar também a nossa mais alegre homenagem a esta figura que enobrece a Cidade de Porto Alegre. Um cidadão prestante desta Cidade que, ao longo de sua vida, nem tão longa vida ainda, já deu mostras do valor e do amor que dedica à nossa terra. Conheci Felizardo há muito tempo, e numa circunstância muito especial, em cima de um caixote, no pátio do Colégio Júlio de Castilhos, no prédio que lhe servia de abrigo depois do incêndio, onde hoje é o Arquivo Público do Estado, protestando contra a sua cassação como presidente do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos. Nós, que tínhamos sido alunos do Júlio e tínhamos sido secretários do Grêmio, fomos chamados na ocasião para prestarmos solidariedade ao ato injusto de destituição do Felizardo como presidente do Grêmio e pela sua transferência compulsória do Julinho. Foi nesta circunstância que conhecemos pessoalmente o Professor Felizardo e, desde então, a nossa vida rolou com altos e baixos: momentos de encontros, de desencontros, como acontece com qualquer um de nós, mas sempre com um ponto em comum, o desejo, a perseguição tenaz daqueles conceitos de justiça, liberdade, democracia, progresso, que nos fizeram amigos por 35 anos. Felizardo foi aluno, tornou-se professor, escritor, historiador, pesquisador. Hoje é um homem de administração, dedicado às artes, à cultura, mas nunca deixou de ser o que essencialmente é, um homem voltado para as coisas da vida, da vida da sua cidade, do engrandecimento desta Porto Alegre que ele viu nascer, e que hoje lhe tributa esta homenagem de Cidadão Emérito. Hoje, quem se sente engrandecido não é a figura de Joaquim Felizardo, é Porto Alegre, por ter um filho deste quilate e por isso nós nos sentimos alegres por podermos participar deste ato em que esta assistência enorme vem tributar ao Prof. Felizardo o apreço que todos nós lhe dedicamos. Mas há um detalhe da vida do Felizardo que não pode passar sem registro; a sua fidelidade ao Partido Democrático Trabalhista. Este Partido deve se sentir honrado com a presença em suas fileiras de uma figura exemplar, de cidadão e militante, como é o professor Felizardo. (Palmas.)

Ao encerrar, quero dizer que a Câmara Municipal agiu corretamente, obviamente, ao atender a proposta do Ver. Adão Eliseu, ao conceder ao Prof. Joaquim Felizardo o título de Cidadão Emérito. Não pode, por razões obvias, conceder-lhe o título de cidadania que já é seu por natureza, mas lhe concede este galardão de Cidadão Emérito como reconhecimento pelos serviços que tem prestado. E, Oxalá, esperamos todos nós, que ainda possam ter prestado à nossa cidade. É o que desejamos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Flávio Coulon, pela Bancada do PMDB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: (Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Secretários do Município; Srs. Diretores de Departamentos; Srs. Presidente da Carris; minhas senhoras e meus senhores.

Quero iniciar este pronunciamento fazendo uma homenagem paralela ao Vereador Adão Eliseu. Estava ele em um momento inspirado quando lembrou de conceder o título de “Cidadão Emérito” ao professor Joaquim José Felizardo. Ao nosso, e digo “nosso” em nome de todos aqui reunidos, professor Felizardo, uma das mentes mais inspiradas que o Rio Grande do Sul já produziu. Aceite, pois, o Vereador Adão Eliseu os nossos cumprimentos. Mas receba, também, junto a eles, uma reclamação. Que enorme dilema nos é colocado ao termos que dizer algo sobre o amigo Felizardo, algo novo, algo que ainda não seja do conhecimento de todos os seus outros amigos aqui reunidos.

Claro, pensei em traçar algumas linhas sobre sua carreira, sobre seu vasto currículo construído ao longo dos anos. Mas isto seria entrar em uma área tradicionalmente abordada pelo autor da homenagem, no caso o próprio Vereador Adão Eliseu. Pensei, em contraponto, traçar algumas linhas sobre sua atuação nestes quase dois anos, primeiro como Diretor da Divisão de Cultura, depois como Secretário Municipal da Cultura de Porto Alegre. Mas o dia é de festa, e recordar aqui tudo o que ele passou, as dificuldades que enfrentou, os golpes que lhe foram aplicados por aqueles de quem deveria esperar apenas apoio, tudo isto poderia obscurecer este momento festivo.

Então, meu caro Felizardo, para evitar estas armadilhas e não fugir ao espírito da festa, prefiro lembrar um pouco, aqui, a importância da presença de pessoas como tu para o pleno desenvolvimento de uma região. Nota que não digo “desenvolvimento cultural”, nem falo em “cidade”. Não. Tua intensa atividade produz resultados que vão muito além dos limites da cultura ou de Porto Alegre. E aqui sim, apenas para exemplificar, vamos tomar o exemplo destes quase dois anos em que dirigiste o órgão cultural máximo do Município.

Folhando as páginas de várias edições da excelente “Agenda” da Secretaria de Cultura, pude perceber a amplitude de abrangência que conseguiste imprimir àquela  Secretaria. Lembro ainda, não faz muito tempo, certamente menos de três anos, das queixas levantadas por intelectuais expressivos de nossa cidade, quanto participar de atividades no Centro de Cultura. Isto, é claro, não pode acontecer jamais. Como não aconteceu, em momento algum de tua administração.

E é exatamente esta capacidade de abrir o espaço a todas as manifestações do espírito humano que fez de tua gestão frente à Divisão de Cultura, primeiro, e à Secretaria de Cultura, depois, exemplos que extrapolam aos limites do setor cultural. Em uma época de radicalização de posições, e, aqui o homenageado vai me perdoar a franqueza, parte integrante de uma administração que foi se tornando cada vez mais sectária, Felizardo soube manter sempre uma atitude de respeito ilimitado a todas as correntes de pensamento que buscam  na Secretaria de Cultura qualquer forma de apoio. Não por acaso, ele é hoje um homem respeitado por todos os Vereadores, de todas as bancadas de partidos diferentes do seu, nesta casa. Este é o exemplo que se espera ver frutificar na próxima administração municipal. Uma administração em que, se espera, não sejam tão raros os felizardos, mas que, ao contrário, se abra receptiva para todos os que, abertamente, visem o interesse da coletividade, e não de uns poucos.

Chamar Felizardo de “Cidadão Emérito” pode até parecer redundância. Emérito ele sempre foi. Mas é bom que este título seja oficializado, pois com isto, mais do que nunca, ele passará a ser reconhecido por todos como um dos grandes homens que esta cidade de Porto Alegre já abrigou. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento solicito ao Ver. Adão Eliseu, autor da Proposição, que faça a entrega do Título ao Professor Joaquim José Felizardo.

Convido a platéia a assistir a entrega em pé.

 

(É feita a entrega.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: É concedida a palavra ao Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre.

 

O SR. ALCEU COLLARES: (Menciona os componentes da Mesa.) Companheiro Joaquim José Felizardo, a Câmara Municipal de Porto Alegre está fazendo justiça a uma vida dedicada ao trabalho na defesa intransigente de princípios ideológicos doutrinários a uma coerência de conduta ao longo do tempo e, acima de tudo, a simplicidade e a humildade. Eu acho que é difícil a qualquer intelectual em qualquer ramo do conhecimento humano algo que possa ficar na memória das gerações, algo que não esteja fundamentado na simplicidade e na humildade. São estas duas virtudes maiores do Professor Joaquim José Felizardo. Nós destacamos exatamente isto por verificar ao longo do tempo que nos conhecemos que por toda parte por onde anda, saudado, homenageado, aplaudido, não apenas pelos ex-alunos, mas por seus companheiros, por aqueles que exercem atividades culturais no Brasil todo e na América Latina, reconhecem em Joaquim José Felizardo um dos homens que teve a preocupação permanente em penetrar profundamente a história do nosso País e a história do mundo. Felizardo, sem dúvida alguma consegue, através dessa tarefa difícil e complexa da interpretação da história, dos seus fatos, dos seus acontecimentos, colocar em seus livros, em seus pronunciamentos, em artigos, uma posição que sempre nos convida a uma tomada de consciência. Livros, muitos escreveu; palestras estamos ouvindo a toda hora, mas em cada livra, em cada palestra, em cada palavra ou em cada comportamento do nosso companheiro Joaquim José Felizardo há a tentativa de um ensinamento, há a tentativa do apontamento de caminhos, há a tentativa de interpretação do próprio processo de desdobramento da própria história. Nosso Joaquim Felizardo, esta é uma tarde de muita importância, certamente nunca imaginaste que poderia acontecer a Câmara Municipal de Porto Alegre, a Casa do Povo, grande escola pública de nossa Cidade prestar-te uma homenagem como esta, onde os oradores, a partir do autor, transitam pela tribuna e transbordam em sinceridade que às vezes, nessas solenidades, ficam muito no campo do protocolo e hoje aprofundaram em sentimentos e até em provocações que nós aceitamos, até porque temos que respeitar a grandiosidade do homenageado (palmas), senão estaríamos descendo, fazendo com que a sua imagem não tivesse a magnitude amazônica que deve ter. Por isso, eu que sou um tipo meio bagual, que quando provocações me fazem desço do cavalo e ataco no meio do caminho, vou levar o nosso nobre Ver. Coulon, que é uma bela figura, diga-se de passagem, não porque está presente, até nas costas eu tenho dito isso, não respondo à provocação aguardando a oportunidade devida para fazê-lo, com a veemência, com a eloqüência e a sinceridade com que faço tudo na minha existência, mas Joaquim, não pode ser uma vida melhor que esta, receber uma homenagem deste quilate. Eu me lembro todas as vezes que o Joaquim, na Divisão de Cultura, com os seus projetos, as suas preocupações, o planejamento que ele está fazendo junto com excelentes assessores e os escolheu livremente, independentemente de pedir atestado ideológico de qualquer um na Secretaria de Cultura. Acho que ali, naquele local, não se pode estar pedindo, não, se não pertence ao Partido não pode trabalhar. Não foi isto que nós pedimos ao Joaquim Felizardo e se pedíssemos ele não aceitaria pelo seu comportamento, pela sua postura, como homem de letras, como um grande político e um grande intérprete dos fatos históricos do mundo moderno e também do mundo antigo. Por isso, na Secretaria de Cultura nós estamos preparando uma estrutura e outras administrações irão tirar dali o proveito necessário, que o Joaquim José Felizardo está conseguindo dar com a assessoria, não apenas à Divisão de Cultura, quando assim exercia a sua função, mas depois que nós criamos, por insistência a Secretaria de Cultura que está dando uma estrutura que outras administrações hão, evidentemente de aproveita-la na plenitude e se isto ocorrer, Joaquim Felizardo, um dos teus grandes sonhos há de ser realizado, a cultura não ficará nos limites da elite, a cultura não permanecerá apenas naqueles que podem comprar o pão do espírito para alimentar a própria alma. A cultura há de se expandir de tal maneira que, inclusive, nos nossos CIEMs, nos ginásios cobertos onde há espaço para teatro, música, a poesia, é do nosso companheiro Felizardo um grande programa de transformar estes espaços em oficinas culturais levando para lá os agentes da cultura primeiro para dar a estas camadas, a estes segmentos  o direito que eles têm de ver o que se passa no mundo daqueles que puderam alçar-se no vôo, buscando conhecimento, a cultura e o saber, mas também com preocupações de despertar vocações. Quantas e quantas vocações não há por aí nos segmentos mais carentes. Quantos e quantos grandes talentos não vieram exatamente nas camadas mais pobres das nossas civilizações e das nossas comunidades.

Então, Joaquim José Felizardo, o Município de Porto Alegre, através do Prefeito Alceu Collares – que alguns gostam, outros não gostam: isso é natural na democracia e, mesmo que eu fosse açúcar, seria daquele açúcar queimadinho, e nem todos iriam gostar dele -, estamos deixando aqui uma obra que, os que gostam, vão falar muito, e os que não gostam vão ter que se dobrar às obras que estamos realizando. Não se pode tirar, não se pode negar, não se pode expugar, não se pode sonegar à opinião pública do Rio Grande e do Brasil a recuperação da Usina do Gasômetro, uma obra extraordinária, a maior obra de recuperação de antiguidades que o mundo conhece hoje – são 8.500 metros quadrados de área para atividade cultural, um monumento ao trabalhador, onde nós vamos ali instalar o Museu do Trabalho, um dos melhores museus do Brasil, e talvez do mundo, que é mantido por um grupo de idealistas – ali vai ser instalado. Ali nós vamos instalar, também, Joaquim Felizardo, um centro de Formação de mão de obra, isto é, um CIEM profissionalizante, também para os trabalhadores. Ali vai ter um teatro com 400 lugares para os trabalhadores, ali vai ter uma biblioteca para os trabalhadores, e ali vai ter também, um restaurante panorâmico para os trabalhadores. E se perguntarem por aí quanto é que nós gastamos, para aquele investimento, não, evidentemente, estimando o valor histórico e o valor cultural, não avaliando estes valores, estão quase inestimáveis, inavaliáveis porque não se tem como avalia-los, mas só como instrumento capaz de ser útil à nossa comunidade, principalmente os trabalhadores, estamos ali fazendo investimento que seria o suficiente apenas para construir um Centro de Formação de Mão de Obra com 3 mil metros quadrados. Estamos recuperando 8.900 metros quadrados para a atividade cultural em Porto Alegre. Em nenhum outro governo, companheiro Joaquim Felizardo, tantas áreas destinadas à atividade cultural foram criadas. Agora, é verdade, que muitas obras não são conhecidas e, por isto, muitas vezes nós convidamos os nossos amigos, os nossos irmãos, para nós irmos aos CIEMS nas vilas para verem que ali nós estamos implantando um sistema que se transforma num monumento à criança pobre onde ela vai ter todas as oportunidades, também até de despertar vocações culturais. Pois muito bem, meu querido Joaquim José Felizardo, vou terminar também prestando uma homenagem a uma outra figura sonhadora, um outro utopista, a um outro desses que raramente passam pela existência, quando passam são como fachos de luzes a iluminar nós que vivemos no mundo da mediocridade, da pequenez pensando que ali atrás, ali adiante do nosso nariz, ali adiante está o mundo, na soberba daqueles que pensam que sabem tudo e às vezes não sabem nada. Então voltaremos à humildade, à simplicidade que deve ser o fermento alimentador dos grandes talentos, e isto o José Joaquim Felizardo tem; este outro a quem me refiro, tem pessoas que gostam de suas idéias, tem outros que não gostam de suas idéias. Mas ninguém pode sequer criticar a existência porque ele viveu e morreu no seu ideal. O homem que vive e morre no seu ideal, ele morre feliz, ele desencarna alegre e sorridente. Vou tentar ver se consigo, num espanhol mui ruim, declamar um poema que é uma homenagem a um outro sonhador que é Che Guevara: “jô soy um hombre nascido...(declama toda a poesia)”.

É o que eu podia dizer para o meu amigo Joaquim José Felizardo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tradicionalmente, a Câmara Municipal entrega a nossos convidados, aos nossos homenageados um troféu chamado Frade de Pedra, que traduz o apreço da população porto-alegrense a todas as pessoas que, de alguma forma, prestam serviços à comunidade, historicamente traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da fraternidade e boas-vindas.

Este troféu tem escrito o seguinte: (Lê os dizeres.)

Este texto é de Luiz Iarup e o Presidente da Casa, normalmente, entrega a nossos homenageados, aos convidados.

Convido a fazer a entrega, comigo, a Professora e Vereadora Gladis Mantelli, 1ª Secretária desta Casa.

 

(É feita a entrega do troféu ao Prof. Joaquim Felizardo.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a atriz Maria Dinorah a usar a tribuna.

 

A SRA. MARIA DINORAH: Boa noite. Quero em meu nome e de José Baldissera agradecer ao Prof. Felizardo a sua grande contribuição à cultura, que durante a sua tão rápida e tão intensa administração está desenvolvendo um trabalho nas mais variadas linguagens artísticas.

Como atores, Baldissera e eu, tivemos a oportunidade de participar em painéis de literatura coordenados pelo escritor Arnaldo Campos. Foi muito importante para nós termos participado, lendo e interpretando contos e poesias de autores locais e de outros Estados.

E, para enfatizar os nossos agradecimentos, fazemos nossas as palavras de Bertolt Brecht, que tão bem ilustra a importância do trabalho humano.

 

“Perguntas de um operário que lê

 

Bertolt Brechat

 

Quem construiu tebas, a de cem portas?

Nos livros, ficam os nomes dos reis.

Os reis arrastaram os blocos de pedra?

Babilônia, muitas vezes destruída, quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas de lima auri-radiosa moravam os obreiros?

Para onde foram, na noite em que ficou pronta a muralha da china, os pedreiros?

A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.

Quem os erigiu?

Sobre quem triunfaram os césares?

Bizâncio multicelebrada tinha apenas palácios para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlantis, na noite em que o mar a sorveu, os que se afogavam gritavam por seus escravos.

 

O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Ele sozinho?

César bateu os gauleses.

Não levava pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe de Espanha chorou, quando sua armada foi a pique.

Ninguém mais teria chorado?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu junto?

 

Por todo o canto uma vitória quem cozinhou o banquete da vitória?

Cada dez anos um grande homem.

Quem pagou as despesas?

 

Histórias de mais.

Perguntas de menos.

 

E para terminar nada melhor do que Cecília Meireles quando diz:

 

Não queria ser.

Não ambiciones.

Não marques limites ao teu caminho.

A eternidade é muito longa.

E dentro dela tu te moves, eterno.

Sê o que vem e o que vai.

Sem forma.

Sem termo.

Como uma grande luz difusa.

Filho de nenhum sol.”

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: É concedida a palavra ao homenageado, Prof. Joaquim José Barcellos Felizardo.

 

O SR. JOAQUIM JOSÉ BARCELLOS FELIZARDO: Ver. Artur Zanella, 1° Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência neste ato, meu querido amigo; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal da minha Cidade, para que fique nos Anais da Casa a minha manifestação de apreço, de respeito ao Prefeito Collares, que num gesto, no meu entendimento equivocado, me fez o primeiro Secretário de Cultura da Cidade de Porto Alegre; Dr. Matheus Schimidt, Presidente do Diretório Regional do PDT, representando, neste ato, meu Líder Nacional, Dr. Leonel Brizola. Vejo no Matheus um dos políticos rio-grandenses mais qualificado, foi para mim um motivo de alta honra ficar ao seu lado no Congresso Nacional, quando ele exercia a Liderança Nacional do meu Partido; Dr. Raul Cauduro, meu querido amigo; Mestre Dante de Laytano, professor de todos nós, talvez a figura mais querida desta Cidade. Se Dante não existisse, era preciso inventá-lo. E mais do que isso, se Dante Laytano não existisse, a humanidade não estaria completa. Jornalista Firmino Cardoso, representando, neste ato, o Jornalista Alberto André, Presidente da ARI; Major Juarez Temes, da Escola de II Grau de Cadetes e que, também, comete seus equívocos, vez que outra, convida este professor para ministrar aulas para os Oficiais da Brigada Militar. Minha querida Quiçá: É desnecessário dizer que diabo não é sábio porque é diabo, mas porque é velho. E eu tenho, efetivamente, uma longa quilometragem e vivi momentos de grandes inquietações, de grandes dificuldades, de grandes emoções, mas não recordo, realmente não recordo um momento como este. Devo dizer a Casa que estou profundamente emocionado, por razões que pretendo alinhar e, talvez, para descontrair essa intervenção, o seu momento inicial, devo dizer à Casa que, na condição de Secretário da Cultura a até em algumas oportunidades representando o Prefeito Alceu Collares, compareci a uma série de Sessões Solenes e, com isso, aprendi o rito das mesmas, pois elas têm a sua especificidade, entre as quais que não cabem apartes ou Questões de Ordem. Na Sessão Solene em que se homenageava o Lauro Quadros, nesta Casa, o Vereador Comin – que está ausente, mas é um querido amigo e poderá ler isso nos Anais – cometeu uma heresia; eu estava presente e não cabia contestá-lo, foi dito desta tribuna que o segundo clube em Porto Alegre é o São José, não é, é o Cruzeiro! Feito esse reparo preliminar, é importante que se entenda a significação desse título. Esta Casa é uma Câmara de Vereadores, e nós sabemos da importância, do papel histórico dos cabildos, na América Latina e as Câmaras Municipais, as casas dos homens bons cumpriram na história deste País. Esta Casa data de 1773, portanto, se está recebendo um título de uma instituição que tem dois séculos de vida, e se me permite o mestre Dante de Laytano, do alto desta tribuna, 215 anos nos contemplam. Mas, não é só isso, não é só pelo seu passado, pela sua composição, pela sua biografia, é porque esta Casa é o parlamento da Cidade de Porto Alegre, sobre a qual, também, pretendemos nos deter um pouco. Queremos, feita essa introdução, saudar a todos os presentes. Os nossos companheiros do Executivo. Foi muito gratificante participar deste elenco de servidores do Município de Porto Alegre que integram o Secretariado desta Cidade, os diretores de departamento, os assessores do Prefeito. Uma saudação muito especial àqueles que me antecederam e foram tão generosos nas suas manifestações. Fizeram com que eu vivesse um momento de encantamento. Disseram coisas muito agradáveis e eu respondo: não é verdade, mas é gostoso. Ao meu Ver. Adão Eliseu, querido amigo e a quem eu tive a honra de assessorar durante um ano nesta Casa, o meu agradecimento muito especial, porque o Projeto de Resolução que deu origem a esta solenidade e a este título foi de sua iniciativa e para felicidade minha contou com a solidariedade das lideranças da Casa e da unanimidade dos Vereadores. Para a Jú, querida amiga, guerreira, uma homenagem muito especial: a Jussara Cony, a Vereadora do PC do B, cujos olhos, belos olhos, sabem ver na noite, antes que o dia amanheça para todos. A minha homenagem. (Palmas.)

Ao Lauro, querido amigo, companheiro de movimento estudantil, de trajetória, de punições, de atos institucionais, e que agora, nesta Casa exerce, novamente, um mandato popular. E o Flávio Coulon, colega de cátedra, universitário, líder do PMDB nesta Casa e que durante a nossa Administração na Secretaria da Cultura teve por aquela instituição o maior carinho, os nossos agradecimentos. A Gládis Mantelli, querida colega de geração, companheira de cátedra e que teve destacada atuação neste Parlamento, ao longo desta Legislatura, também a nossa homenagem, a nossa homenagem aos colegas funcionários da Secretaria Municipal da Cultura que me conduziram até aqui, esta Secretaria que iniciou a sua trajetória na administração Alceu Collares. E nós dizíamos, quando da posse, que estávamos ali para recolher a alta flor que nunca foi colhida, por ser tão alta que ninguém colheu. Naquela posse nós estávamos ali para recolher bela, loçã, a mais admirável flor da administração Alceu Collares, a Secretaria Municipal da Cultura. Os colegas e professores do Movimento, professores socialistas, do PDT, aos meus colegas de cátedra, professores, aos meus ex-alunos, um beijo muito carinhoso aos meus familiares, a todos eles que estão presentes, e não vou nominá-los, um abraço fraterno ao nosso parlamentar Erani Muller, irmão, querido amigo, do Congresso Nacional, e um abraço e uma homenagem aos funcionários da Casa com os quais convivi largo tempo e, até, tive oportunidade de um período dirigir. Vejo que chega na Casa um historiador, um prezado amigo, Décio Freitas, que representa o CODEC. A todos vocês, senhoras e senhores, um abraço muito fraterno.

Dito isto e colocado o fato de que este ato, que é uma Sessão Solene em que uma Casa com 215 anos de existência dá um título a um cidadão, é importante localizar também – e localizei, repito -, o fato de que esta Casa é um parlamento de uma cidade em particular, da minha cidade de Porto Alegre que tem especificidade. Em diferentes pronunciamentos, e até pela condição de Secretário da Cultura, fui levado a fazer uma reflexão sobre a minha cidade. Em alguns momentos eu registrei algumas anotações, e vou retomar para que fique nos Anais da Casa. (Lê.) “Tenho pela minha Porto Alegre um afeto que chamaria de afeto visceral. Nasci nesta cidade e aqui tenho vivido quase toda a existência. Quando longe do traçado irregular dessas ruas, dominou-me quase sempre a sensação do exílio, a nostalgia e o caráter indelével das lembranças.

Meus amigos, venho de uma Porto Alegre ainda provinciana, onde normalistas desfilavam fagueiras pela Rua da Praia, às cinco da tarde, sob olhar suplicante dos rapazes, enquanto a intelectualidade municipal reunia-se em frente da Livraria do Globo.

Era um outro tempo – nem melhor nem pior – era apenas um outro tempo, cheio de bondes rugidores e fantásticos que estremeciam as casas e nos quais, além do namoro, se praticava o proselitismo político.

No bonde Partenon, como aquele personagem de Dyonélio Machado, eu vinha para o “Julinho”, observando as casas flutuarem sob a garoa de inverno ou se destacarem sob a luminosa cor do outono, enquanto em novembro – num milagre anual – floresciam os jacarandás da rua Guilherme Schell. Esse era o anúncio esperado de que em dezembro teríamos as rubras flores dos flamboyants...

Mas a memória não resgata apenas a beleza: sempre houve algo mais nesta cidade fora a poesia e o encantamento.

Aqui descobri a fibra de seus habitantes, que parecem sintetizar em si a audácia e a valentia de dois séculos de colonização. Um povo de fibra residia nestes edifícios, nestas casas, nestas vilas, nestes cortiços. Vi esse povo em agosto de 1954, desesperado com o suicídio de seu líder. As ruas serão pequenas para conter sua indignação, sua dor, sua fúria. Enfrentarão tudo: armas e tanques. Tenho ainda esta gente na minha retina, esse movimento de massas que deterá o golpe antinacional, e se me esforçar um pouco, sentirei o cheiro da fumaça negra de tantos incêndios.

Como não ficar ao lado desse povo?

Como esquecer um outro agosto, o de 1931, quando mais uma vez, esta cidade se levantaria – agora sob a liderança de Leonel Brizola – recusando-se a aceitar a derrota da ordem constituída. Nestes dias e noites, a fraternidade e o risco andarão juntos e, como uma febre, a resistência inflama bairros, subúrbios, vilas, se propaga pelo interior, avança pelo País, triunfo. Porto Alegre Triunfa.

Em 1964 perdemos, é verdade. Mesmo assim foi aqui que se esboçou a resistência. E a cidade só se rendeu quando não havia mais chance. Nos anos seguintes, Porto Alegre continuou sendo uma das poucas capitais brasileiras onde os representantes do novo regime foram irremediavelmente vencidos nas urnas.

Neste período, fui cassado, punido por atos institucionais, preso perseguido. Olho, hoje, para trás sem nenhum rancor, sem nenhum ressentimento, porque percebo que os antigos dominadores desapareceram nas sombras, tragadas pela correnteza avassaladora da história... Até porque faço este mergulho na história por vício pedagógico, já que é da minha constituição intelectual olhar para a frente, sonhar com o amanhã, acreditar que somos responsáveis pelo ano 2000. Que o ano 2000, nos julgarão em bloco, que deveremos prestar contas, passara a limpo os nossos gestos políticos.

Ainda com relação a nossa Porto Alegre, como Secretário da Cultura, tenho insistido, repetido, sublinhado, que o que diferencia a nossa cidade de outras tantas cidades do mundo é o fato dela possuir algo aparentemente imaterial, misterioso, inefável, mas que se consubstancia nas manifestações artísticas, culturais e de modos de vida.

Estou me referindo ao fato de que Porto Alegre tem alma. Uma alma muito espacial que permeia becos, ruas e avenidas; praças, parques e o próprio rio.

Imagino que esta alma se cristalizou nas músicas de Lupicínio, músicas dos negros, dos mestiços, dos homens da noite, dos que rejeitam a claridade diurna e falam de perfídias, ingratidões e dores dos sonhos desfeitos. Uma alma musical constituída por vozes que vêm das brumas, como a de Elis Regina, ou as que chegam agora como as de Adriana a Calcagnoto, Glória Oliveira, Muni, Flora Almeida, Loma e tantas outras, sem esquecer as vozes masculinas que descrevem um arco que vem de Rubens Santos à Vitor Ugo. Esta alma encontra seu instante mágico nas harmonias que se exalam na flauta de Plauto Cruz e se manifesta na modernidade envolvente de Raul Elwanger, Nico Nicolaiewsky, Nelson Coelho de Castro ou na pesquisa de Gelson Oliveira e Giba Giba.

A alma porto-alegrense é também literária. Tem adquirido consciência na palavra escrita, desde os abnegados membros da Revista Parthenon aos simbolistas que se encharcavam de Verlaine e absinto na Praça da Harmonia, até os modernos como Damasceno Ferreira, Augusto Meyer e Álvaro Moreyra.

A alma foi aprisionada em páginas indeléveis de Mário Quintana e Érico Veríssimo, dois interioranos convertidos ao fascínio de Porto Alegre, cujo registro de nossa paisagem física e humana, permite o reconhecimento rápido, a identificação. Aí está ela, nestes versos, nestes parágrafos: a alma se objetiva. Alguém duvida que ela também não apareça nos textos de Dyonélio Machado, em alguns de Cyro Martins?

É na Rua Cabo Rocha que passei a sua angústia, Camilo Mortágua de Josué Guimarães. Enquanto isto o velho Marx encontra-se com Freud na Felipe Camarão. Esse Bonfim místico de Moacyr Scliar. Mas a alma não se deixa possuir por pouco e deixa-se invadir por contos de Arnaldo Campos, Laury Maciel, trechos de Assis Brasil e Tabajara Ruas. Estremece de calor na narrativa de João Gilberto Noll. Torna-se sensual com os editores Ivan Pinheiro Machado e Roque Jacob, para que esses lancem autores gaúchos. Eu afirmaria ainda que a alma porto-alegrense tem volúpia do teatro, do cinema, da fotografia, das artes plásticas, da crítica, da memória cultural e da crônica. Tudo isto constitui um processo cultural que chamo de alma. E esta tradição que se formou na cidade e que ninguém, nenhum administrador cultural poderá deter ou desviar”.

Antes de retomar aquela idéia nuclear em que eu pretendo captar a dimensão desse título, cabe referir, no momento em que vou falar em cultura, o agradecimento à ex-aluna, querida amiga e hoje atriz desta cidade, Maria Dinorah, que veio à tribuna em nome dos meus 40 mil ex-alunos. Isto realmente é insubstituível. Esta Casa está plena de colegas meus de cátedra. E, todos sabem, que há uma atividade social que só pode ser praticada com amor, que é o magistério e que a grande gratificação do professor é o fato de que ele não envelhece nunca, porque ele tem a idade de todos os meus alunos e é por isso que o Dr. Dante Laytano é tão jovem.

Com relação à cultura nesta cidade, quando nós nos preparávamos para criar a Secretaria Municipal da Cultura. Aqui deve se fazer justiça: quando eu fui convidado pelo Prefeito Alceu Collares para assumir a Divisão de Cultura, naquela oportunidade, o Prefeito Alceu Collares chamou a atenção para o fato de que a minha tarefa política era criar a Secretaria Municipal da cultura. Por isso que esta decisão, no meu entendimento, uma decisão política histórica, tem que ser creditada ao Prefeito Alceu Collares. Tanto isso é exato que no próximo livro que estarei publicando sobre a Legalidade consta a minha homenagem ao Prefeito por esta iniciativa.

Mas eu dizia que quando debatíamos as coisas da cultura e o desdobramento deste processo, eu, realmente, fixei algumas posições. Afirmava que entendia que todo porto-alegrense tinha direito à cidadania cultura. No exercício da função da secretaria procurei ampliar todas as nossas atividades. De outra parte, chamava para junto da Secretaria a intelectualidade desta Cidade e afirmava, até pelos meios de comunicação da modernidade de hoje, que o intelectual quando capaz de ensinar, capaz de sensibilizar pessoas, até pelos recursos dos veículos de comunicação, está hoje no meio do povo disperso, como estiveram na Antigüidade os oradores de Atenas e Roma. E dizia mais, não é lícito ver o intelectual como um ser à parte, um eleito ou iluminado, nem como um alienado do processo social; ao contrário, é ele que pode melhor contribuir para a formação de uma ideologia. Para estar engajado numa luta de classes, o intelectual não precisa estar nas ruas; trabalhando com o pensamento, cabe a ele uma importante tarefa histórica. Ainda com relação a nossa posição, dizemos mais, um projeto político que utiliza a cultura como elemento de sua realização e que só consegue se afirmar e encontrar sua vitalidade desprezando todas as esferas da cultura, que não se enquadram nos seus cânones tende a esvaziar o seu próprio espaço, pois a obsessão do político conduz à negação da complexidade do cultural quando, paradoxalmente a cultura é, no caso, proposta como meio de efetivação do político. Por outro lado, o desprezo pela dimensão estética em produções dirigidas ao povo, como se os efeitos estéticos não passassem de meros traços decorativos burgueses, revela não só um profundo desconhecimento quando ao potencial da função política social das criações artísticas como também um desprezo pelo próprio povo, como se a este o estético não fizesse falta. E foi esse o norte que se deu na Secretaria Municipal da Cultura. Mas, voltando ao início do nosso pronunciamento, entendemos que este ato, esta solenidade e esta láurea têm tal dimensão, tem tal significado pelas razões alinhadas que ela não pode entendida, seria muito auto-suficiente da parte do homenageado entender como uma homenagem a ele e apenas isso. Por isso, recolho esse título como uma homenagem àqueles que integraram o poder executivo do município, como uma homenagem à Secretaria da Cultura, através de todo o seu corpo funcional e daqueles assessores que me acompanham nesta caminhada, mas mais do que isso, na minha biografia o que fica, o que é uma constante, o que é a marca, é o fato de que sou um professor, e apenas isso. Tenho livros publicados, de fato, tenho; sou um professor que escreveu livros; sou Secretário Municipal da Cultura, estou Secretário, eu sou um professor que a generosidade do Prefeito fez seu Secretário; fui um homem cassado por atos institucionais, eu fui porque exercia a cátedra, não fora isso não teria sido cassado. Então, quero recolher esta homenagem e estendê-la aos meus colegas professores, aqueles que estão aqui. Aqueles que foram meus professores e aqueles que hoje são professores e foram meus alunos e quero concluir esta intervenção com uma reflexão sobre o professor: Eu digo o seguinte: “De 1940 a 1943, 40 mil professores poloneses foram fuzilados pelas tropas especiais da SS sob ordem direta de Hitler. O ditador nazista pretendia transformar a Polônia numa região de colonização alemã, tornando os eslavos servos embrutecidos da nova “raça de senhores”, tinha perfeito conhecimento do que representava para uma nação a eliminação de seu corpo docente.

Este exemplo tirado da história recente nos remete ao problema, não só da função social do professor, como também do que o magistério representa na vida intelectual e cultural de um País.

Para os desatentos, o exercício do magistério parece uma das atividades sociais mais amenas. É um equivoco imaginar que os professores, ao longo do tempo e ao longo da História, tiveram uma vida profissional tranqüila e sem sobressaltos.

Em verdade, nenhuma categoria profissional é mais atingida quando ocorrem transformações políticas, até porque, os professores, ou são instrumentos da ideologia política dominante ou a contestam.

Exemplificando, mesmo na democrática Atenas, Sócrates foi condenado à morte sob acusação de “impiedade, ateísmo e corrupção da juventude”.

Mais tarde, em 1600, Giordano Bruno, professor na Sorbone, teve seu corpo devorado pelas chamas da Inquisição por haver defendido teorias de Copérnico. Por ensinar a rotação da Terra, Galileu também foi processado. Não menos ilustrativo, é o episódio datado de 1925 nos Estados Unidos, quando um obscuro professor rural foi processado por ensinar aos seus alunos a “Teoria da Evolução das Espécies” de Charles Darwim, consagrada em 1859. Os ensinamentos do professor, na época, contrariavam a versão bíblica da formação da Natureza e do homem.

Repetimos, ao longo do tempo e ao longo da História, encontramos situações semelhantes.

E por que isto ocorre?

Isto ocorre por uma razão muito simples: o pensamento sempre abala a ordem estabelecida.

De outra parte, toda a ordem estabelecida, calcada em privilégios e valores intelectuais (ideologia), sente-se ameaçada pela ação do pensamento.

Mussolini, o ditador fascista (1922 – 1943), definiu bem esta realidade, quando determinou a prisão do filósofo Antonio Gramci. Disse Mussoline: “este cérebro tem de estar atrás das grades”.

“Exatamente por liderar com ideais, lidar com valores, transmitir informações, determinar a razão de ser das coisas, abalar mentes, sacudi-las, transportar os indivíduos do fundo da caverna do não-saber para o mundo do conhecimento e da verdade, é que os professores muitas vezes se tornam o terror dos tiranos”.

Não foi por acaso que Goering, criador da Gestapo, declarou: “Quando me falam de cultura eu saco o revolver”.

No Brasil recente, se os nossos ditadores não “sacavam o revolver” quando ouviam falar em cultura, sacavam das salas de aula os mais cultos professores, através dos Atos Institucionais, IPMs e perseguições políticas de toda ordem, instrumentos preferidos dos obscurantistas que infelicitaram a Nação brasileira nestas últimas duas décadas.

No entanto, o que espanta a todos nós , nesta heróica resistência através dos séculos é a fragilidade dos professores.

“Suas armas são rudimentares. Um par de livros, um caderno de anotações, uma barra de giz e a Palavra!

Fisicamente não se destacam por nenhuma demonstração de vigor; pelo contrário. Em muitas comunidades, os inaptos para o trabalho físico é que tinham o encargo de educar as crianças. Normalmente são tipos nervosos, sensíveis e neurotizados por um trabalho estafante e pouco gratificante em termos econômicos.

Em grandes linhas, podemos resumir a trajetória do magistério afirmando: na Antiguidade foram escravos; na Idade Média servos; hoje são assalariados...

“Apesar destas dificuldades arroladas, a situação social e a importância política dos professores cresceu muito na evolução da História. Na Antiguidade, a maioria dos mestres de ensino eram escravos ilustrados contratados pelas famílias aristocráticas como preceptores de seus rebentos. Nossos antepassados espirituais foram os sofistas gregos que como mestres do saber – se apresentavam nos Jogos Olímpicos, nas Assembléias Populares, ou em mercados públicos oferecendo seus préstimos – eram obrigados a realizar discursos inflamados para atrair a clientela.

Recebendo pequenos óbulos de seus discípulos, propunham-se a ensinar a oratória, a retórica e a dialética. Terminando o período de ensino, procuravam outras cidades, perambulando pelas estradas como ciganos. A aparência de alguns era lastimável. Antístenes, que lecionava no Ginásio Cinosargos de Atenas, conciliou sua situação miserável com uma filosofia de vida – o cinismo – que literalmente significava “vida de cão”. Seu discípulo Diógenes morava no alto de um morro, dormindo num barril.

Na Idade Média, a situação profissional dos professores sofreu uma ligeira melhora. A maioria dos mestres de ensino, por serem padres, tinham atrás de si a poderosa Igreja Católica, interessada na conversão dos bárbaros e na formação dos nobres. Mas a maioria deles fazia sua refeição junto à criadagem palaciana.

É a partir da Revolução Industrial que passou a ocorrer a melhoria das condições materiais dos professores. A importância da tecnologia, o intenso debate político provocado pela eclosão da Revolução Francesa, terminou por guinda os professores a uma posição nunca dantes imaginada. As verbas destinadas à educação tornaram-se volumosíssimas e as massas passaram a ver nela não somente um fator de ascensão social, mas um direito humano irrecusável. Atualmente quase todos países do mundo a tornaram obrigatória, inclusive estendendo-a ao ginásio (caso da Suécia, Holanda, Bélgica, URSS, alguns estados da América do Norte, etc.) Encontramo-nos, atualmente, naquilo que podemos chamar de “educação permanente”. O processo educativo deixou de se encerrar aos dez ou doze anos, tornando-se algo presente para a vida toda. Um rapaz de classe média, que anteriormente satisfazia-se com o curso ginasial (15 ou 16 anos), agora além do curso superior (4 a 6 anos) é obrigado a formar-se num curso de pós-graduação (2 a 3 anos) significando que vai penetrar no mercado de trabalho com 25 anos ou mais. Seus estudos não se encerram aí: A especialização e o auto-aperfeiçoamento profissional terminam por leva-lo a uma permanente maratona de cursos e estágios que se prolongam por mais de vinte anos. O curso secundário, que, há tempos passados, era a complementação final do processo educativo, no momento nada mais é do que o primeiro passo na longa caminhada a ser realizada.

Todos estes fatores fizeram, pois, por transformar a profissão: de simples ornamento de uma minoria privilegiada – que utilizava a educação apenas como um adendo a mais em seu cabedal de privilégios – num poderoso agente de conservação e transmissão do saber. Visando, não mais ao cultivo do precioso, do belo dito, da frase de efeito, do gesto galante; mas sim colocar ao alcance das massas um conjunto de conteúdos técnicos e humanísticos que as façam sair do seu obscuro universo de brutalidades a que foram por séculos relegadas. A extensão do conhecimento ao coletivo e a auto-ilustração transportarão os homens do reino da Necessidade ao reino da Liberdade, como desejava Hegel.”

Sr. Presidente, concluindo, então, o meu pronunciamento, agradecendo a generosidade desta Casa, agradecendo a presença de todos os amigos, eu recolho esta láurea como professor, e apenas isso, e a estendo aos meus colegas. Eu recolho esta homenagem em nome daqueles que fazem ao longo da vida, da escola o seu templo, da sala de aula a sua oficina, da cátedra a sua tribuna e do estrado, o seu palco. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(O homenageado é cumprimentado pelos participantes da Mesa.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ao ensejo do encerramento desta Sessão, cabe somente dizer que a votação deste Projeto efetivamente trouxe um problema, foi discutido na nossa Bancada que nós abríamos um precedente ao homenagearmos um Secretário Municipal, em exercício, um diretor de Autarquia, um Diretor de uma Sociedade de Economia Mista; e todos eles ou a maior parte deles, seguramente a maioria deles merece também esse tipo de homenagem. A nossa Bancada achou, considerou e por isso votou, por unanimidade, no Prof. Felizardo, que sua atuação transcendida a uma simples tarefa administrativa, tornando-se uma tarefa da cidade. E por isso a sua votação foi por unanimidade e esse precedente se abre, mesmo estando no exercício de um cargo do Município esta homenagem é concedida. Eu agradeço a presença de Prefeito Alceu Collares, Dr. Matheus Schmidt, Raul Cauduro, Dante de Laytano, Major Juarez Temes, Dep. Erani Muller, Vereadora Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Casa, e, ao encerrar, agradecemos de todo o coração a presença de todos os Senhores, de todas as Senhoras, que, mais do que trazer prestígio a esta Casa, e ao homenageado, trazem prestígio a esta Cidade que nós representamos. Agradeço a presença de todos.

 

 (Levanta-se a Sessão às 21h15min.)

 

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